O Ministro das Relações Exteriores Ernesto de Araújo, olavete convicto, esteve nesta quarta em Washington, DC, para fazer a única coisa que sabe, já que é uma negação para representar o Brasil na política internacional: vomitar ideologia conservadora. E não haveria lugar melhor para ele fazer isso do que a Heritage Foundation, uma fundação que é pura ideologia conservadora também.
Não por acaso, Ishaan Tharoor, analista de política internacional do Washington Post, ao conferir a participação de Ernesto Araújo na Heritage Foundation, classificou-o como “fascinantemente ideológico”.
Ernesto Araújo se sentiu em casa, e pôde falar à vontade sobre suas teorias conspiratórias, acusar o ambientalismo de ideológico, o que chamou de “climatismo”; definir justiça social como um pretexto para implantar uma ditadura, negar as queimadas na Amazônia, afirmar que a mudança climática não é um problema, entre outros chorumes de quem teve a cabeça colonizada pelo Olavo de Carvalho.
Para Ernesto Araújo, o nosso real problema é uma “dominação ideológica” (olha quem fala!) que nos fez perder a “dimensão simbólica do ser humano”. Não perdeu a oportunidade de “denunciar” os planos malignos para dominar o mundo via globalismo e marxismo cultural dos filósofos marxistas Antonio Gramsci, Rosa Luxemburgo e Herbert Marcuse — este da perigosa Escola de Frankfurt! —, do dramaturgo Bertold Brecht, do psicanalista francês Jacques Lacan, e, como não poderia faltar, o ditador Josef Stalin.
Ao terminar o discurso conspiranóico olavista de Ernesto Araújo, a apresentadora do evento, membra da Heritage Foundation e representando a fundação, disse que era um privilégio estar com Ernesto Araújo, o que foi seguido por aplausos de uma platéia satisfeita com o que ouviu. Todos que estavam lá concordaram com Ernesto Araújo, ouviram calados todo o discurso, nenhuma objeção.
A mudança climática é um fato comprovado por inúmeros estudos e observações. Para combater o negacionismo do aquecimento global, a NASA divulgou todas as evidências que confirmam esse fenômeno que nos trará consequências devastadoras. Isso não pode ser negligenciado, ainda mais por governantes e seus representantes.
Mas, afinal, o que é essa tal de “Heritage Foundation”?
A Heritage Foundation é um think tank que defende Estado mínimo, liberalismo econômico, conservadorismo e o militarismo estadunidense. No Brasil, ela ficou mais conhecida pelos seus índices de “liberdade econômica” publicados anualmente. Eles são a principal referência para neoliberais de internet “provarem” que o desenvolvimento dos países mais ricos se devem ao liberalismo econômico.
A realidade, porém, não confirma tais índices. Todos os países centrais do capitalismo se valeram de política industrial, protecionismo e subsídios para se desenvolver, ou seja, seu desenvolvimento foi totalmente dependente de uma política econômica dirigista, que é chamada pejorativamente pelos neoliberais como “intervencionista”.
A Inglaterra, por exemplo, que sustenta o mito de ser o país do liberalismo econômico, teve praticamente 4 séculos de protecionismo. No século XV já financiava com dinheiro público a indústria têxtil. Taxava pesadamente a importação de manufaturados e liberava de tarifas apenas a importação de matéria-prima. Séculos de medidas protecionistas culminaram na Revolução Industrial e só a partir daí ela abriu um pouco o seu mercado.
Os índices de liberdade econômica também possuem uma metodologia falaciosa. Dos 10 critérios que adota, 4 nada tem a ver com liberdade econômica, mas com a realidade política e social dos países desenvolvidos. Já critérios que de fato pesariam, como participação do Estado na economia, alcance dos serviços públicos, e política cambial, são ignorados. Ou seja, é uma metodologia cujos critérios foram pensados pra que países ricos pontuassem à frente, e então chamar isso de liberdade econômica.
O que a Heritage Foundation faz é panfletagem conservadora pesada, sem nenhum compromisso com a honestidade, com os fatos, com a verdade. É marketing agressivo a favor do neoliberalismo. Seu fundador, Ed Feulner, faz parte da ala radical do Partido Republicano e foi amigo de Milton Friedman, Ronald Reagan e Margaret Thatcher, o trio que colocou o neoliberalismo na agenda do mundo.
Ernesto Araújo e Heritage Foundation: o pior do Brasil no pior dos EUA
Foi essa fundação extremamente conservadora, defensora ferrenha dos mais ricos e do neoliberalismo extremo, que convidou o transtornado do Ernesto Araújo para palestrar.
Um negacionista climático em uma fundação neocon que prega terraplanismo econômico: juntou a fome com a vontade de comer.
Recapitulemos: um think tank conservador-neoliberal, que abastece o arsenal retórico dos neoliberais e ultraliberais do mundo inteiro, não só concordou com, como aplaudiu um cara que propaga a teoria conspiratória do globalismo (que possui inspiração anti-semita), nega as queimadas na Amazônia e desdenha da mudança climática. Guardemos bem isso, porque num futuro próximo dirão que o governo Bolsonaro é de esquerda, assim como dizem sobre o nazifascismo hoje.